A IMPORTÂNCIA DA MUSICOTERAPIA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL ESPECIAL:

um relato de experiência no projeto Uma Sinfonia Diferente RS

Autores

Palavras-chave:

Musicoterapia, Educação Musical, Inclusão, Transtorno do Espectro Autista

Resumo

O autor principal desse relato possui Transtorno do Espectro Autista (TEA), diagnosticado na fase adulta, e se dispôs a atuar como voluntário no projeto Uma Sinfonia Diferente RS, onde há a presença de uma musicoterapeuta como coordenadora do mesmo. Ele precisou abandonar um pouco de sua zona de conforto devido ao autismo, pois, deve ele prestar suporte aos integrantes do Projeto, os quais são chamados de sinfoneiros, e abdicar características próprias, a exemplo de ser uma pessoa introspectiva.

          Sua formação primária se deu na área da Educação Musical (Música: Licenciatura). Em suas participações como voluntário nas sessões de musicoterapia, observou que existem ligações da prática da musicoterapia com a educação musical.  As sessões assistidas tiveram a duração de quarenta e cinco minutos, com horários diferenciados destinados para distintas faixas etárias, das crianças aos jovens adultos,

          As sessões de musicoterapia, de acordo com a autora do Projeto, se baseiam em os sinfoneiros acompanharem a musicoterapeuta da maneira como conseguem, recebdendo algumas orientações de como segurar e tocar os instrumentos musicais, de natureza rítmica, melódica ou harmônica, sem envolver o estudo da música formal. A musicoterapeuta estimula os participantes a tocarem esses instrumentos musicais no sentido de fazerem os sinfoneiros seguirem o movimento rítmico executado, seja de forma cantada e ou tocada.

          Esse aspecto rítmico da musicoterapia, que entendemos aqui como uma forma não medicamentosa de tratamento para o TEA, evidencia ter uma conexão com o ensino de música. Para o autor principal, que atua como voluntário, esse aspecto de “seguir o ritmo”, não foi bem trabalhado com ele quando aluno de música, levando em consideração suas patologias, em sua jornada de aprendizado do piano, viola clássica e da flauta doce. Visto que, ele ainda possui significativas dificuldades para manter o andamento e controlar as estruturas rítmicas de uma peça musical, em especial quando executada em conjunto que envolve muitos participantes. Ele possui outros diagnósticos associados ao TEA, incluindo o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Talvez se ele tivesse recebido na infância e adolescência sessões de musicoterapia, possivelmente ele seria um músico profissional bem-sucedido.  Essa tentativa de ser músico e ao mesmo tempo ser um professor de música, deparou-se com barreiras advindas da parte da maioria dos professores que lecionavam as práticas musicais interpretativas; professores sem um preparo profissional específico, capaz de enfatizar a escuta e o olhar que incluíssem seu diagnóstico e as dificuldades aparentes reveladas por dificuldades consecutivas na execução instrumental de questões rítmicas.

          O projeto Uma Sinfonia Diferente RS, no estado do Rio Grande do Sul (RS), iniciou em 2019. Foi proposto com objetivo de oferecer musicoterapia para desenvolver a linguagem, a comunicação e as habilidades sociais de pessoas com TEA, bem como de outras características patológicas associadas, ou seja, de atender pessoas com TEA e com demais comorbidades. O mesmo ocorre em alguns estados do Brasil, sendo a unidade trazida aqui nesse relato de experiência, experiências que ocorrem nas cidades de Novo Hamburgo - RS e de Porto Alegre – RS.

          A professora de música e musicoterapeuta Di Pinto Pâncaro (1935-2020) foi a precursora no RS no estudo, na formação de profissionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e na Faculdades EST (EST), e, na aplicação da Musicoterapia com pacientes com transtornos mentais (BARCELLOS; SANTOS, 2021), foco do referido projeto. É importante salientar a diferença entre o que é Educação Musical e qual a sua diferença para a Musicoterapia. Enquanto a Educação Musical lida com o ensino de Música, ou seja, com a relação aluno-professor com o objetivo de desenvolver o conhecimento musical formal, a Musicoterapia, por sua vez, lida com a relação terapeuta-paciente, e procura melhorar aspectos da saúde da pessoa, a exemplo da cognição e da interação social, de pacientes com transtornos globais do desenvolvimento, se utilizando de técnicas musicoterapêuticas específicas que são aplicadas pelo idioma musical, formado por sons, ruídos e silêncio,  para se alcançar determinados objetivos musicoterapêuticos.

          Pela Ciência, o TEA não possui cura, mas sim tratamento, e por mais que um adulto seja diagnosticado somente na fase adulta, considera-se que ele teve autismo desde seu nascimento.  Dentre tantas características, o TEA é caracterizado por prejudicar no bebê e na criança: Sorrisos ou expressões de entusiasmo; Compartilhamento de sons e/ou sorrisos; Balbucios; gestos compartilhados; Nenhuma palavra simples até os dezesseis meses de vida; Regressão ou perda de linguagem, balbucio ou habilidade social em alguma idade; Ausência de atenção compartilhada; e Comportamentos atípicos (estereotipias, interesses estranhos, interesse social limitado) (BRITES; BRITES, 2019, p. 79-80).

          Além de auxiliar no desenvolvimento psicomotor dos sinfoneiros, o Projeto auxilia na interação interpessoal de seus participantes, visto que muitos apresentam dificuldades de relacionamento com seus pares. Para isso, o Projeto conta com a participação das famílias no processo de musicoterapia, que devem ser abertas no sentido que o mesmo leva algum tempo para surtir efeito, visto que é uma alternativa de tratamento alternativo.

          Assim, o Projeto se mostra eficiente para a área da Musicoterapia e da Saúde Mental, por ser um tratamento não medicamentoso, como também para a área da Educação Musical Especial, que deve pensar tanto na inclusão social de seus indivíduos (estudantes) nas aulas de música e suas competências, como no mercado de trabalho para o músico com deficiência. As grandes orquestras, por exemplo, também se configuram em espaços de trabalho para as pessoas com TEA, TDAH, TAG e outras deficiências. O mundo da música orquestral e acadêmico no Brasil não é inclusivo, e o autor principal pode afirmar isso, devido à sua experiência de diversos enfrentamentos de preconceitos vivenciados em sua vida.  A Educação Musical Especial embora englobe o aprendizado das práticas interpretativas em música, inserido em processos de ensinos e de aprendizagens, não se configura como uma terapia musical, porque ela tem à sua frente um professor e não um profissional capaz de atuar musicalmente em musicoterapia.

Biografia do Autor

Laura Franch Schmidt da Silva, Faculdades EST

Possui graduação em Licenciatura em Música (UFRGS), Especialização em Musicoterapia (Universidade FEEVALE), Mestrado em Música (UFRGS) e Doutorado em Teologia (IEPG/EST). Atualmente é assessora musicopedagógica do Centro Educacional Pingo de Gente, professora local da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e professora titular da Faculdade EST. Atua como docente e na supervisão de estágios musicoterapêuticos - Licenciatura em Música e Bacharelado em Musicoterapia (EST).

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Publicado

07-03-2024

Como Citar

de Carli da Silva, G., Franch Schmidt da Silva, L., & Perez Gonçalves de Moura, E. (2024). A IMPORTÂNCIA DA MUSICOTERAPIA PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL ESPECIAL:: um relato de experiência no projeto Uma Sinfonia Diferente RS. Anais Do Encontro Sobre Música E Inclusão, 1(1). Recuperado de https://ojs.musica.ufrn.br/emi/article/view/92

Edição

Seção

Inclusão em contextos de ensino de música

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